Expedição BSB-333 busca elucidar grande mistério da humanidade escondido por mais de três séculos embaixo de lama radioativa

26 de abril de 2016 - Laetitia V. Jourdan

[Imagem retirada de: http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/04/esqueletos-de-grupo-que-tentou-golpe-de-estado-em-atenas-sao-encontrados.html]

Por Laetitia Jourdan*

No ano de 2367 o Dr. Geller-Jones, arqueólogo reconhecido interplanetariamente por sua ousadia, decidiu reavivar a memória de um povo ao dirigir a expedição BSB-333, com o objetivo de pesquisar um território do planeta Terra esquecido após ser tomado por uma onda gigante de lama radioativa. Há 351 anos o mundo assistiu estarrecido ao desaparecimento de mais de 204 milhões de pessoas. Foram bilhões e bilhões de toneladas de lama radioativa cobrindo 8.515.767km² sem deixar nenhum centímetro intacto. Muitos acharam que era o início do apocalipse que se estenderia para todos os continentes, de forma que no decorrer dos meses que se seguiram, as diversas populações do planeta ficaram aguardando o juízo final, pois nenhuma explicação científica foi encontrada.

Tal fato parece ter influenciado o consequente fortalecimento das diferentes religiões existentes na época, uma vez que todos buscavam uma salvação ao fim dos tempos. Além disso, foi observado nessa época o surgimento de seitas hoje muito conhecidas e com grande influência na nossa sociedade, como a seita Messias de Deus. A expedição BSB-333 foi muito criticada pelas lideranças religiosas e políticas, que recusaram a liberação de verba para uma “missão suicida, que nada elucidará, uma vez que já está provado que o destino daquele país foi traçado pelas mãos divinas”. O Dr. Geller-Jones, no entanto, contou com o financiamento de milionários excêntricos que acreditam ser possível a elucidação desse grande mistério da humanidade, apesar dos 351 anos já transcorridos, sem que nenhum sinal de vida fosse observado pelos satélites naquele território.

Em entrevista exclusiva ao blog, o Dr. Geller-Jones lembra a importância de se buscar esclarecer o passado para elucidar o presente. Segundo o arqueólogo, o fenômeno acontecido em 2016 teve graves consequências sobre toda a história da humanidade e não deve ser deixado de lado: “Durante anos aquele território ficou isolado devido ao alto risco de contaminação. Os primeiros aventureiros que buscaram respostas nunca voltaram. Os países vizinhos foram esvaziados e um perímetro de segurança foi estipulado, para que nenhum ser vivo pudesse se aproximar dali. A humanidade se desenvolveu, conquistou novos planetas e novas tecnologia, de forma que, aos poucos, aquele imenso mar de lama foi esquecido, assim como a população que um dia lá existiu, sua cultura, suas instituições e seu papel na história da humanidade. Aquele terreno só era lembrado como um lugar de morte, onde nada nasce, nada cresce e de onde ninguém deveria chegar perto. Devemos reavivar essa memória e tentar explicar, com o conhecimento e a tecnologia que temos hoje, as causas que levaram ao desaparecimento de todo um povo”.

Dr. Geller-Jones nos cedeu em primeira mão o relatório preliminar da expedição BSB-333. Transcrevemos abaixo um pequeno trecho:


“No dia 17 de abril do ano 2367 foi iniciada a expedição BSB-333. O objetivo era analisar os níveis de radioatividade ainda existentes na área delimitada, bem como fazer uma pesquisa arqueológica inicial, visando a reconstituição dos fatos acontecidos há exatamente 351 anos, no dia 17 de abril de 2016, quando toda a área foi tomada por uma enorme onda de lama radioativa com origem ainda indeterminada.

A expedição foi formada por sete membros, sendo um arqueólogo, um químico nuclear, um historiador, um engenheiro eletrônico, um físico, um biólogo e um médico. Toda a equipe passou por três meses de preparação, aprendendo a lidar com situações adversas. Não sabendo o que iríamos encontrar, uma vez que os satélites não mostravam nenhuma forma de vida ou movimento naquele território desde o acontecido, passamos por um treinamento equivalente àquele dado aos astronautas quando fazem expedições a planetas ainda pouco explorados.


A equipe buscou, através da análise dos dados coletados, explicações para a onda gigante de lama radioativa, tendo em vista que até o dia de hoje a comunidade científica não chegou a um consenso em relação às causas de tal fenômeno. A expedição aconteceu de maneira tranquila, sendo que os níveis de radioatividade na região se mostraram baixos, tendo sido possível a permanência da equipe por dois meses no local.

Os primeiros scanners feitos mostraram alguns elementos interessantes, que corroboram com informações obtidas em nossas pesquisas de dados secundários. Aparentemente a lama radioativa possui propriedades de conservação, uma vez que as imagens mostram detalhes assustadores de cenas passadas há mais de três séculos. As ossadas encontradas estavam majoritariamente reunidas em grupos e se posicionavam em frente a telas, na época conhecidas como televisões e telões. Aparentemente eles seguiam algum fato importante que era transmitido através desses aparelhos, que foram encontrados tanto dentro de casas particulares, quanto em locais públicos, como praças. Junto a esses corpos foram encontrados restos de bandeiras – a antiga bandeira do país e outras de cor vermelha. Aparentemente, eram grupos distintos, ainda não sabemos dizer se os grupos de bandeira vermelha eram estrangeiros, uma vez que esse povo possuía fenótipos muito variados e fica difícil definir sua origem.

Foi também encontrado escombros do que parece ser um muro, no local onde, segundo nossas pesquisas, estaria a sede política desse país. Esse sítio arqueológico mostra claramente a divisão entre grupos com bandeiras nacionais e grupos onde tais bandeiras se misturam a outras, preponderantemente de cor vermelha. Ainda segundo dados secundários, o evento para o qual o país parou não era de cunho esportivo, no entanto, tal fato é contestado pela nossa missão, que encontrou, para além das bandeiras, elementos como apitos, cornetas, restos de fogos de artifício e muitos resquícios do que parecem ser patos de plástico. Não sabemos ainda para o que serviam tais patos e se eles teriam alguma relação com o mar de lama radioativa. Uma nova missão já está sendo organizada com o objetivo de esclarecer esse e outros mistérios”.

Aguardamos ansiosos informações sobre as novas expedições do Projeto BSB-333, que agora conta com maior número de doadores e já prevê cinco novas viagens ao local para elucidar esse grande mistério da humanidade!

*Laetitia V. Jourdan é antropóloga, bacharel em ciências sociais pela UFMG e mestre em antropologia aplicada ao desenvolvimento sustentável na Universidade de Provence. Franco-brasileira, na procura de tentar se encontrar no mundo e se conhecer melhor, descobriu seu desejo pela escrita. Hoje, faz experimentos no atelier Estratégias Narrativas em busca de um estilo, de uma história, de uma maior compreensão de si e dos outros.