diário um dois e três

01 de abril de 2019

[André DiFranco]


quem é você


que eu nunca acesso


falando sobre si mesmo


olhando



pois a cada minuto


frame a frame


você se distancia um pouco mais de mim


mesmo insistindo em se aproximar



e não adianta


aos vinte minutos


mostrar o seu rosto


falar na minha orelha


até porque isso não soa tão bem



ninguém te perdoará


por desaparecer no fim


ao longe de nós



(ou será que devo


será que não é você)



são


diários nítricos


bitolas fosforescentes


partituras de um código binário


um diário poema como máquina de clones


um filme antigo como tecnologia futura



será


que você sabia


da televisão - da internet - da nova intimidade



fazendo


poesia


diário


filme


conversa


desabafo


ficção


realidade


antiga



poliglota e polihumano


a se multiplicar


será


que você sabia


que ao se multiplicar tanto


eu não te esqueceria


mesmo hoje


-


[Poema produzido na oficina O cinema da escrita, ministrada pela professora Carina Gonçalves]


André Di Franco é antropólogo, arte educador e artista audiovisual. Publicou em 2017 a cartilha "Comum: faça você mesmo em cineclubismo" (Associação da Imagem Comunitária - AIC). Atualmente, está como coordenador de audiovisual da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte. Desde de março de 2019 mantém o blog/diário/dilema guaxinimmolhado.home.blog.