Caio Fernando Abreu: amor e (des)amor, a incansável busca

18 de setembro de 2015

Por Vanessa Souza


Caio Fernando Abreu é o escritor brasileiro contemporâneo que mais aprecio. Desde que me deparei com seu clássico “Morangos mofados”, na biblioteca da Universidade Regional de Blumenau (FURB/SC), há cerca de duas décadas, sabia que sua escrita iria me marcar indelevelmente como leitora. Na época, sugeri que meus amigos lessem seus livros – nenhum deles, até então, tinha a menor ideia de quem era o autor gaúcho. Hoje, tenho todos os livros do Caio F. Todas as antologias das quais ele participou. Edições raras. Sou uma caiomaníaca, com muito orgulho.


Como grande admiradora da obra de Clarice Lispector (que descobri bem antes de ler os livros de Caio F.), eu me identifiquei profundamente com os escritos caioferdianos, sem saber exatamente os motivos de tal arrebatamento. Na época desconhecia a influência de Clarice na obra do escritor gaúcho.


Antes de ingressar no mestrado, participei de um congresso de psicanálise em Ribeirão Preto/SP, que tinha como tema a paixão. Foi aí que escolhi o assunto de minha dissertação. Durante uma das palestras lembrei subitamente do conto de Caio Fernando Abreu chamado “Extremos da paixão”. Nesse momento decidi que escreveria sobre a paixão e o amor na obra de Caio F.


Sou blogueira também e na tag Caio F. há cerca de 250 trechos do autor. Exagero? Como ficar indiferente a uma pessoa que escreveu coisas como:“Ficou um silêncio cheio de becos.” Ou: “(...) como é triste lembrar do bonito que algo ou alguém foram quando esse bonito começa a se deteriorar irremediavelmente.” E ainda: "O que eu não sabia nem poderia saber - em parte porque aos 20 anos a gente pouco sabe além da própria fome, em parte porque não podia, nem posso ou podemos, prever o futuro - é que embora parecesse tarde, era ainda cedo." Não é de dilacerar a alma? Sim, sim, todos os sins para a produção literária do Caio: contos, romance, novelas, crônicas, roteiros de teatro, cartas, bilhetes...


Por fim, saber que o escritor gaúcho precisava viver – e viveu muito, sorveu até a última lufada de ar que conseguiu – para escrever, me estimula ainda mais a ler e estudar sua obra. "Não escrevo senão sobre o que conheço profundamente. Meus livros me perseguem durante muito tempo. Nunca tive nada a não ser a bagagem de minhas experiências."