Era parte ausente na cidade.
O espaço onde sempre se deleitou
estava sendo deletado, editado.
Era a primeira vez que sentia claustrofobia por estar se alargando.
Os prédios o comprimiam
e o asfalto quente que passa agora sobre sua antiga casa choca carros.
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A casa caía
os prédios o comprimiam
e subiam
não voltava
só ia
a cidade mal se sentia
ou sorria
e tudo aquilo aumentava sua claustrofobia
fobia
vida que ia
Bianca de Sá é moradora do Aglomerado Santa Lúcia/Morro do Papagaio desde que nasceu, há 24 anos. Nos últimos 4 anos tem pesquisado e desenvolvido trabalhos artísticos sobre a favela e na favela. Utiliza fotografia, intervenção urbana e literatura como linguagens. Acredita que artistas favelados precisam ocupar a cena cultural da cidade para legitimar a voz da periferia, tão mal representada por artistas que apenas exploram estes lugares como objeto, sem representá-la de fato, e muitas vezes fortalecendo os estereótipos negativos, como violência, marginalidade e desorganização vendidos pelas mídias.
É graduada em Jornalismo, fotografia e estudante de Artes visuais – especialização em Arte-ambiente.