9 verdades e 1 mentira sobre O Livro de Ouro das Coisas Sem Graça de Luciana Abdo.

10 de maio de 2017 - Laura Cohen

[Por Laura Cohen]

1.O Livro de Ouro das Coisas Sem Graça é um livro de variedades: contém contos, poemas, rancores, fisiologias, um guia de uso para o facebook, uma entrevista, um guia turístico para lugares de morrer, cosmogonias, mitologias, astrologias, malcriações, muitas baratas e lançamentos próximos, consistindo, assim, numa espécie de livro-de-livros, ou uma versão contemporânea da revista Seleções. Entretanto, no lugar de fotos de gente branca que vai ao dentista, temos uma bela coleção de ilustrações feitas pelo artista plástico Henrique Detomi.

2. A informação anterior é uma mentira: o livro não é um livro de variedades, mas unicamente um livro de contos, em que o conto é levado ao seu extremo. Até mesmo o texto escrito em versos é um conto, porque Luciana Abdo tem pavor de poesia.

3. Gosto de chamar Luciana Abdo de Lucianas, porque acredito que dentro do corpo e do intelecto desta mulher há uma miríade de gentes. Luciana, em seu primeiro livro publicado (há muitos outros engavetados e eu sei onde ela mora, caros editores nacionais e internacionais), trabalha com destreza entre o erudito e o popular, compondo inúmeros autorretratos de si mesma e do mundo onde ela habita, sendo ele simultaneamente ficcional e real. As marcas mais distintiva do trabalho da autora são a mudança e a novidade. Assim, quando Luciana chega ao Estratégias Narrativas toda terça, dizemos em uníssono: “Ih, o que será que ela vai inventar agora?”.

4. Em sua entrevista, Luciana diz que ela é uma leitora, mais que uma escritora, e ela mostra suas leituras através da escrita: escrever, para Luciana, é reler – reler o mundo, concatenando-o e misturando-o com suas leituras. O Livro de Ouro das Coisas Sem Graça, portanto, pode atuar também com um guia de leitura mitológico, infanto-juvenil, clássico e contemporâneo. Dentro do livro contém também piadas internas que, infelizmente, nem todos conseguimos entender.

5. Originalmente, o livro se chamava O livro de BOLSO das coisas sem graça. Entretanto, ao perceber que calças femininas não têm bolso, Luciana trocou o título na esperança de enriquecer com a literatura.

6. O livro foi escrito durante um longo transe do mel alucinógeno produzido pelo pai de Luciana e que ela comercializa legalmente, com aprovação da ANVISA, no Estratégias Narrativas, vendido por R$15,00. Mel de matizes perfumados e aromas florais, cujas abelhas ajudam a polinizar as árvores de mexericas presentes no sítio. A editora, Elza Silveira, e a preparadora de originais (eu) estavam sob efeito do mel quando revisaram o livro. Qualquer erro de diagramação ou revisão será atribuído a isso. O ilustrador, Henrique Detomi, entretanto, é abstêmio.

7. Mesmo feito através de um transe, o livro foi escrito através de uma longa e profunda pesquisa. Luciana visitou pessoalmente os 50 LUGARES PARA CONHECER DEPOIS DE MORRER e chegou a entrevistar algumas baratas para o conto José K. Sublunar foi feito sob a consulta do astrólogo Luca Badona. Ana Crônica, entretanto, é uma carta real, simplesmente incorporada ao livro. Não sabemos quem é Ana.

8. Luciana sempre me deixa com muita vontade de inventar moda. Depois que li o livro dela, comecei a planejar algumas vinganças e a planejar o meu afterlife. Por isso, O Livro de Ouro das Coisas Sem Graça deve ser lido mais como um guia para a vida (e a morte) contemporânea do que como literatura propriamente dita.

9. O lançamento do livro será performático e feito através de procuração. Luciana não escreverá dedicatórias e talvez nem esteja presente durante maior parte da festa. Se estiver, estará bêbada a ponto de falhar a comunicação. Por favor, sejam pacientes e tolerantes. Escrever um livro não é bolinho.

10. O lançamento será no Arcângelo Caffé no edifício Maletta (Rua da Bahia, 1148, sl 02). É ali na varandinha, na frente daquele prédio que parece uma igreja só que não é uma igreja. Vai ser sábado próximo, dia 13/05, a partir das 14h. Quem chegar por último é mulher do padre.

Laura Cohen é escritora e criadora do projeto Estratégias narrativas. Formada e mestranda na faculdade de Letras da UFMG, publicou os romances História da água (2012) e Ainda (2014), e o livreto de poemas Ferro (2016). É uma das coordenadoras do selo literário Leme, editando vários livros de prosa e poesia.

Laura Cohen é escritora. Formada em letras e mestre Estudos Literários pela UFMG, publicou os romances História da Água (Impressões de Minas, 2012) e Ainda(Leme, 2014) e Canção sem palavras (Scriptum, 2017), Caruncho (no prelo, impressões de minas, 2022) e as plaquetes de poesia Ferro (Leme, 2016) e Escrever é uma maneira de se pensar para fora (Leme, 2018). Seu romance Caruncho está com lançamento previsto para o segundo semestre de 2021. Foi vencedora do segundo prêmio de literatura Universidade Fumec, em 2011, e em sua edição de 2009, obteve o terceiro lugar, publicando nas duas edições da coletânea Da Palavra à Literatura – Narrativas Contemporâneas. Faz parte da coordenação do selo Leme da editora Impressões de Minas, editando e preparando livros de diversas autoras e autores. Em 2019, participou do ciclo Arte da Palavra do Sesc, dando oficinas em diversas cidades brasileiras. (foto: Bianca de Sá)